Comentário ao Evangelho do dia (Mateus 5,43-48) feito por :
Santo Isaac, o Sírio (séc. VII), monge em Nínive, perto de Mossul no actual Iraque
Discursos ascéticos, 1.ª série, n.º 60
«Ele faz com que o sol se levante sobre os maus e os bons»
Anuncia a bondade de Deus. Porque se és indigno, Ele guiar-te-á, e então tudo Lhe deves; Ele nada te exige. E pelas pequenas coisas que fizeres, Ele dar-te-á em troca grandes coisas. Não digas de Deus apenas que Ele é justo. Porque não é relativamente ao que fazes que Ele revela a sua justiça. Se David lhe chama justo e recto (Sl 32,5), o seu Filho revelou-nos que, mais do que isso, Ele é bom e doce: «Ele é bom até para os ingratos e os maus» (Lc 6,35).
Como podes limitar-te a apenas falar na justiça de Deus, ao leres o capítulo sobre o salário dos trabalhadores? «Em nada te prejudico, meu amigo. Não foi um denário que nós ajustámos? Leva, então, o que te é devido e segue o teu caminho, pois eu quero dar a este último tanto como a ti. Ou não me será permitido dispor dos meus bens como eu entender? Será que tens inveja por eu ser bom?» (Mt 20,13-15). Como se pode simplesmente dizer que Deus é justo se, ao lermos o capítulo do filho pródigo que dissipou a riqueza de seu pai na devassidão, nos é relatado que, tendo percebido a dor do filho, logo para este seu pai correu, se lhe atirou ao pescoço e lhe deu plenos poderes sobre toda a riqueza paterna? (Lc 15,11s). Quem nos contou estas coisas acerca de Deus não foi alguém de quem possamos duvidar. Foi o seu próprio Filho: Ele próprio deu esse testemunho de Deus. Onde está portanto a justiça de Deus? Não é neste «quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós»? (Rm 5,8). Se Deus se mostra compassivo aqui na Terra, acreditemos que o é desde a eternidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário