Comentário ao Evangelho do dia (Mateus 5,1-12) feito por:
Isaac de l'Étoile (? - c. 1171), monge cisterciense
Sermão 1, de Todos os Santos
«Felizes os pobres em espírito»
Todos os homens, sem excepção, desejam a felicidade, a bem-aventurança. Mas têm sobre ela ideias diferentes: para um, a felicidade está na voluptuosidade dos sentidos e na doçura de vida; para outro, está na virtude; para outro ainda, está no conhecimento da verdade. É por isso que Aquele que ensina todos os homens [...] começa por recuperar os que se afastaram, orientando os que se encontram no caminho certo, e abrindo a porta aos que batem. [...] Assim, pois, Aquele que é «o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo 14, 6) recupera, orienta e abre a porta, e começa a fazê-lo dizendo: «Felizes os pobres em espírito».
A falsa sabedoria deste mundo, que na realidade é loucura (1Cor 3, 19), pronuncia-se sem compreender o que diz; considera bem-aventurados «os filhos do estrangeiro, cuja boca só diz mentiras, e cuja direita jura falso», porque os celeiros deles «estão fornecidos com todas as espécies, os seus rebanhos multiplicam-se aos milhares, em dezenas de milhares os seus campos» (Sl 143, 11-13). Mas todas estas riquezas são incertas, a paz deles não é a paz (Jer 6, 14), a alegria deles é estúpida. Pelo contrário, a Sabedoria de Deus, o Filho por natureza, a mão direita do Pai, a boca que fala verdade, proclama felizes os pobres, que estão destinados a ser reis do Reino eterno. Ele parece dizer: «Procurais a bem-aventurança, mas ela não se encontra onde a procurais; correis, mas correis fora do caminho. Eis o caminho que conduz à felicidade: a pobreza voluntária por Minha causa, é esse o caminho. O Reino dos céus em Mim, eis a bem-aventurança. Correis muito, mas mal; quanto mais depressa avançais, mais vos afastais da meta.»
Não temamos, irmãos. Somos pobres, ouçamos a palavra do Pobre, que recomenda a pobreza aos pobres. Podemos acreditar na Sua experiência. Tendo nascido pobre, viveu pobre e pobre morreu. Nunca quis enriquecer; antes aceitou morrer. Acreditemos, pois, na Verdade que nos indica o caminho que conduz à vida. Trata-se de um caminho árduo, mas curto; e a felicidade é eterna. O caminho é estreito, mas conduz à vida (Mt 7, 14).
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