Beato Guerric d'Igny (c. 1080-1157), abade cisterciense
IV Sermão para os Ramos
“Felizes os que Nele procuram abrigo” (Sl 2, 12)
Bem-aventurado seja Aquele que, para me permitir ocultar-me “nas fendas dos rochedos” (Cant 2, 14), deixou que Lhe perfurassem as mãos, os pés e o lado. Bem-aventurado Aquele que Se abriu por completo a mim, a fim de que eu pudesse penetrar no admirável santuário (Sl 41, 5) e “abrigar-me na Sua tenda” (Sl 26, 5). Este rochedo é um refúgio […], doce lugar de repouso para as pombas, e os orifícios escancarados das chagas que tem por todo o corpo oferecem o perdão aos pecadores e concedem a graça aos justos. É morada segura, irmãos, “torre sólida contra o inimigo” (Sl 60, 4), habitar por meio da meditação amante e constante as chagas de Cristo Nosso Senhor, procurar na fé e no amor pelo crucificado abrigo seguro para a nossa alma, abrigo contra a veemência da carne, as trevas deste mundo, os assaltos do demónio. A protecção deste santuário sobrepõe-se a todas as vantagens deste mundo. […]
Entra pois neste rochedo, esconde-te […], refugia-te no Crucificado. […] O que é a chaga do lado de Cristo, senão a porta aberta da arca para os que serão preservados do dilúvio? Mas a Arca de Noé era apenas um símbolo; isto é a realidade; já não se trata de salvar a vida mortal, mas de receber a imortalidade. […]
É pois razoável que a pomba de Cristo, a sua amiga formosa (Cant 2, 13-14) […], cante hoje os Seus louvores com alegria. Da memória ou da imitação da Paixão, da meditação das Suas santas chagas, como das fendas do rochedo, a sua voz dulcíssima ressoa aos ouvidos do Esposo (Cant 2, 14).
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