Comentário ao Evangelho do dia (Mateus 25,31-46) feito por
S. Braulio de Saragoça (cerca 590-651); bispo
Carta 19
«Ao ver a viúva, o Senhor Jesus ... disse-lhe: 'Não chores'» (Lc 7,13)
Cristo, esperança de todos os crentes, chama aos que deixam este mundo não mortos mas adormecidos ao dizer: «Lázaro, o meu amigo, está a dormir» (Jo 11,11); o apóstolo Paulo, por seu turno, não quer que estejamos «tristes por causa dos que adormeceram» (1 Tes 4,13). Por isso, se a nossa fé afirma que «todos os que crêem» em Cristo, segundo a palavra do Evangelho, «não morrerão jamais» (Jo 11,16), nós sabemos que eles não estão morto e que nós próprios não morremos. É porque, «quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu, e os que morreram em Cristo, ressurgirão» (1 Tes 4,16). Portanto, que a esperança da ressurreição nos encoraje, pois voltaremos a ver os que tínhamos perdido. Importa que acreditemos firmemente nele, quer dizer, que obedeçamos aos seus mandamentos, porque com o seu poder supremo ele acorda os mortos mais facilmente do que nós acordamos os que estão a dormir. Eis o que nós dizemos e, contudo, não sei por que sentimento, refugiamo-nos nas lágrimas, e o sentimento da lamúria dá um primeiro corte na nossa fé. Ai de nós! A condição do homem é lamentável, e como é vã a nossa vida sem Cristo! Mas tu, ó morte, que tens a crueldade de quebrar a união dos esposos e de separar os que estão unidos pela amizade, a tua força está desde já esmagada. De futuro, o teu jugo impiedoso é esmagado por aquele que te ameaçava pelas palavras do profeta Oseias: «Ó morte, eu serei a tua morte» (Os 13,14 Vulg). É por isso que, com o apóstolo Paulo, lançamos este desafio: «Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?» (1 Cor 15,55). Aquele que te venceu resgatou-nos, entregou a sua querida alma nas mãos dos ímpios, para fazer deles os seus queridos.Seria muito longo relembrar tudo o que nas Santas Escrituras nos deveria consolar a todos. Que nos baste acreditar na ressurreição e erguer os nossos olhos para a glória do nosso Redentor, porque é nele que nós somos já ressuscitados, como a nossa fé nos faz pensar, segundo a palavra do apóstolo Paulo: «Se morremos por Ele, também com Ele reviveremos» (2 Tim 2,11).
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