Comentário ao Evangelho do dia (Lucas 21,29-33) feito por
São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja
Sermão nº 74 sobre o Cântico dos cânticos
«Quando virdes acontecer estas coisas, sabereis que está próximo o Reino de Deus»
«É Nele, realmente, que vivemos, nos movemos e existimos» (Act 17, 28). Feliz daquele que vive por Ele, que é movido por Ele, em quem Ele é a existência. Perguntar-me-eis: se não se conseguem descobrir os sinais da Sua vinda, como foi que eu soube que Ele estava presente? É que Ele é vivo e eficaz (Heb 4, 12); mal entrou em mim, despertou a minha alma adormecida. Vivificou-me, enterneceu-me e animou-me o coração, que estava adormecido e duro como uma pedra (Ez 36, 26). Começou por arrancar e sachar, construir e plantar, regar a minha secura, dar luz às minhas trevas, abrir aquilo que estava fechado, inflamar a minha frieza, e também aplainar os cumes e nivelar os terrenos escarpados (Is 40, 4) da minha alma, para que ela pudesse dizer: «Bendiz, ó minha alma, o Senhor, e toda a minha vida interior o Seu santo nome» (Sl 102, 1).
O Verbo esposo veio a mim mais do que uma vez, mas sem dar sinais da Sua irrupção. [...] Foi pelo movimento do meu coração que me apercebi de que Ele ali estava. Reconheci a Sua força e o Seu poder, porque senti apaziguarem-se-me as más tendências e as paixões. A discussão e a acusação aos meus sentimentos obscuros levou-me a admirar a profundidade da Sua sabedoria. Experimentei a Sua doçura e a Sua bondade pelo veloz progresso da minha vida. E, vendo renovar-se-me o homem interior (2Cor 4, 16), o meu espírito no mais fundo de mim mesmo, descobri um pouco da Sua beleza. Contemplando por fim tudo isto, estremeci diante da imensidão da Sua grandeza.
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