Comentário ao Evangelho do dia (Marcos 10,28-31) feito por :
S. Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja
Sermão 37 sobre o Cântico dos Cânticos
«Neste tempo, já, o cêntuplo»
«Semeai na justiça, diz o Senhor, e recolhei a esperança da vida». Ele não vos remete para o último dia onde tudo vos será dado realmente e já não em esperança; Ele fala do presente. Claro que será grande a nossa alegria, o nosso júbilo infinito, quando começar a verdadeira vida. Mas, para já, a esperança duma tão grande alegria não pode ser sem alegria. «Alegrai-vos na esperança», diz o apóstolo Paulo (Rom 12, 12). E David não diz que estará na alegria, mas que ficou nela no dia em que esperou entrar na casa do Senhor (Sl 121, 1). Ele ainda não possuía a vida, mas já tinha colhido a esperança de vida. E experimentava a verdade da Escritura que diz que, não só a recompensa, mas «a esperança dos justos é plena de alegria» (Pr 10, 28). Essa alegria é produzida na alma daquele que semeou para a justiça, pela convicção que tem de que os seus pecados estão perdoados...
Qualquer um de vós que, após o início doloroso da conversão, tem a felicidade de se ver consolado pela esperança dos bens por que espera... colheu, desde agora, o fruto das suas lágrimas, viu Deus e ouviu-o dizer: «Dêem-lhe o fruto das suas obras» (Pr 31, 31). Como é que aquele que «saboreou e viu como o Senhor é bom» (Sl 33, 9) não havia de ver Deus? O Senhor Jesus parece muito doce àquele que recebe dEle, não só a remissão dos pecados, mas também o dom da santidade e, melhor ainda, a promessa da vida eterna. Feliz daquele que já fez uma tão bela colheita... O profeta fala verdade: « Aqueles que semeiam nas lágrimas colhem na alegria» (125,5)... Nenhum proveito nem honra terrestre nos parecerá acima da nossa esperança e desta alegria de esperar, doravante profundamente enraízada nos nossos corações: «A esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rom 5,5).
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