Comentário ao Evangelho do dia (Marcos 10,17-27) feito por :
S. João Crisóstomo (c. 345- 407), bispo de Antioquia depois de Constantinopla, doutor da Igreja
Homilia sobre o devedor de dez mil talentos,3; PG 51, 21
«Mas, então, quem pode salvar-se?»
Em resposta à pergunta que lhe fazia um homem rico, Jesus tinha revelado como se podia aceder à vida eterna. Mas a ideia de ter de abandonar as suas riquezas deixou este homem muito triste e ele foi-se embora. Então, Jesus declarou: «É mais fácil entrar um camelo pelo furo de uma agulha, do que entrar um rico no Reino de Deus». Por seu turno, Pedro aproxima-se de Jesus, ele que se despojou de tudo, renunciando à sua profissão e à sua barca, que já não possui nem um anzol, e põe esta pergunta a Jesus: «Mas, então, quem pode salvar-se?»
Repara, ao mesmo tempo, na reserva e no zelo deste discípulo. Ele não disse: «Ordenas o impossível, essa ordem é demasiado difícil, essa lei é demasiado exigente». Também não ficou em silêncio. Mas, não faltando ao respeito e mostrando quanto estava atento aos outros, disse: «Mas então, quem pode salvar-se?» É que muito antes de ser pastor, já ele tinha alma; antes de ser investido de autoridade..., já se preocupava com a terra inteira. Um homem rico teria provavelmente perguntado isso por interesse, por medo da sua situação pessoal e sem pensar nos outros. Mas Pedro, que era pobre, não pode ser suspeito de ter feito a sua pergunta por semelhantes motivos. É sinal de que se preocupava com a salvação dos outros, e que queria aprender do Mestre como se chega a ela.
Daí a resposta encorajadora de Cristo: «Para os homens isso é impossível, mas não para Deus». Quer Ele dizer: «Não penseis que vos deixo ao abandono. Eu próprio vos assistirei num assunto tão importante, e tornarei fácil o que é difícil».
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