Comentário ao Evangelho do dia (Marcos 2,23-28) feito por
Aelred de Rielvaux (1110-1167), monge cisterciense
Espelho da Caridade, III, cap. 3 (trad. Bellefontaine, 1992, p. 185)
«O sábado foi feito para o homem»
Quando um homem se retira do tumulto exterior para entrar no segredo do seu coração, quando fecha a porta à multidão ruidosa das vaidades e percorre os seus tesouros interiores, quando nada encontra em si mesmo que esteja agitado e desordenado, nada que o atormente e o contrarie, quando tudo nele está cheio de alegria, de harmonia, de paz e de tranquilidade; quando o pequeno mundo dos seus pensamentos, das suas palavras e das suas obras lhe sorri, como a família sorri ao pai numa casa onde reina a ordem e a paz; nessa altura, surge de repente uma segurança maravilhosa. Dessa segurança provém uma alegria extraordinária, dessa alegria resulta um canto de satisfação e de louvor a Deus, louvor esse tanto mais fervoroso, quanto mais claramente se compreende que tudo quanto se tem de bom é dom de Deus.
A comemoração alegre do sábado deve ser precedida de seis dias, isto é, do completamento das obras. Começamos por transpirar praticando as boas obras, para em seguida descansarmos na paz da nossa consciência. Dessas obras boas nasce a pureza da consciência, que conduz a um justo amor de si mesmo, que nos permitirá amar o próximo como a nós mesmos (Mt 22, 39).
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