ANIVERSÁRIO DA PARÓQUIA

Aniversário da Paróquia no próximo dia 2 de Fevereiro. Celebração às 19h30 na Igreja. Jantar no Centro Paroquial. Inscrições para o jantar na portaria do Convento (Telf. 226165760).

Madrid 2011

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

4ª-feira da semana XXX do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia (Lucas 13,22-30) feito por

Santo Ireneu de Lyon (c.130 - c.208), bispo, teólogo e mártir

Contra as heresias, V, 32, 2

«Hão-de vir do Oriente, do Ocidente, do Norte e do Sul, sentar-se à mesa no Reino de Deus»

A promessa feita anteriormente por Deus a Abraão manteve-se estável. Deus tinha-lhe dito, com efeito: «Ergue os teus olhos e, do sítio em que estás, contempla o norte, o sul, o oriente e o ocidente. Toda a terra que estás a ver, dar-ta-ei, a ti e aos teus descendentes, para sempre» (Gn 13,14-15). [...] No entanto, Abraão não recebeu herança alguma durante a sua vida terrena, «nem mesmo um palmo de terra»; foi sempre um «estrangeiro e hóspede» de passagem (Act 7,5; Gn 23,4) [...] Portanto, se Deus lhe prometeu a herança da terra, e se não a recebeu durante a sua estadia terrena, terá de recebê-la na posteridade, isto é, com aqueles que temem a Deus e n'Ele crêem, aquando da ressurreição dos justos.

Ora a sua posteridade é a Igreja, que, pelo Senhor, recebe a filiação adoptiva em relação a Abraão, como diz João Baptista: «Deus pode suscitar, destas pedras, filhos de Abraão» (Mt 3,9). Também o apóstolo Paulo diz na sua Epístola aos Gálatas: «E vós, irmãos, à semelhança de Isaac, sois filhos da promessa» (Gl, 4,28). Diz claramente ainda, na mesma epístola, que os que acreditaram em Cristo recebem, de Cristo, a promessa feita a Abraão: «Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não se diz: «e às descendências», como se de muitas se tratasse; trata-se, sim, de uma só: E à tua descendência, que é Cristo» (Gl 3,16). E, para confirmar tudo isto, diz ainda «Assim foi com Abraão: teve fé em Deus e isso foi-lhe atribuído à conta de justiça. Ficai, por isso, a saber: os que dependem da fé é que são filhos de Abraão. E como a Escritura previu que é pela fé que Deus justifica os gentios, anunciou previamente como evangelho a Abraão: Serão abençoados em ti todos os povos» (Gl 3,6-8) [...]

Se portanto nem Abraão nem a sua descendência, isto é, todos os que são justificados na fé, não recebem agora herança alguma na terra, recebê-la-ão no momento da ressurreição dos justos, porque Deus é verídico e estável em todas as coisas. E é por este motivo que o Senhor dizia «Felizes os mansos, porque possuirão a terra.» (Mt 5,5).

terça-feira, 28 de outubro de 2008

3ª-feira da semana XXX do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia (Lucas 6,12-16) feito por

Papa Bento XVI

Audiência geral de 3/5/2006
(trad. DC 2359, p. 514 © copyright Libreria Editrice Vaticana)

"Convocou os discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos"

A Tradição Apostólica não é uma colecção de objectos, de palavras como uma caixa que contém coisas mortas; a Tradição é o rio da vida nova que vem das origens, de Cristo até nós, e envolve-nos na história de Deus com a humanidade. Este tema da Tradição é de grande importância para a vida da Igreja.

O Concílio Vaticano II realçou, a este propósito, que a Tradição é apostólica antes de tudo nas suas origens: "Dispôs Deus, em toda a sua benignidade, que tudo quanto revelara para a salvação de todos os povos permanecesse íntegro para sempre e fosse transmitido a todas as gerações. Por isso, Cristo Senhor, em quem se consuma toda a revelação de Deus Sumo (cf. 2 Cor 1, 30; 3, 16; 4, 6), mandou aos Apóstolos que pregassem a todos os homens o Evangelho... como fonte de toda a verdade salutar e de toda a disciplina de costumes, comunicando-lhes os dons divinos" (Const. dogm. Dei Verbum, 7).

O Concílio prossegue, anotando como tal empenho foi fielmente seguido "pelos Apóstolos que, pela sua pregação oral, exemplos e instituições, comunicaram aquilo que tinham recebido pela palavra, convivência e obras de Cristo, ou aprendido por inspiração do Espírito Santo" (ibid.). Com os Apóstolos, acrescenta o Concílio, colaboraram também "varões apostólicos que, sob a inspiração do mesmo Espírito Santo, escreveram a Mensagem da salvação" (ibid.).

Como chefes do Israel escatológico, também eles doze como doze eram as tribos do povo eleito, os Apóstolos continuam a "recolha" iniciada pelo Senhor, e fazem-no antes de tudo transmitindo fielmente o dom recebido, a boa nova do Reino que veio até aos homens em Jesus Cristo. O seu número expressa não só a continuidade com a santa raiz, o Israel das doze tribos, mas também o destino universal do seu ministério, que leva a salvação até aos extremos confins da terra. Pode-se captar isto do valor simbólico que têm os números no mundo semítico: doze resulta da multiplicação de três, número perfeito, e quatro, número que remete para os quatro pontos cardeais, e portanto para todo o mundo.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

1º Aniversário do nosso Blog


Foi a 27 de Outubro de 2007 que "lançamos" a mensagem de abertura do nosso Blog... Passou um ano e muitas coisas foram feitas e relatadas neste Blog dedicado à Catequese: textos de informação e formação, fotos dos acontecimentos marcantes da vida da Catequese, músicas e programas de rádio, vídeos sobre a Igreja e o Mundo, meditações sobre o Evangelho de cada dia, trabalhos das nossas crianças, etc...

Tudo isto só foi e é possível com a ajuda e o carinho de todos. Aos que nos ofereceram a sua colaboração, aos que nos animaram com as sua palavras, aos que nos visitaram ao longo deste ano (e foram vários milhares...), aos que tecnicamente permitiram a existência e excelência deste Blog, para todos vai o meu sincero MUITO OBRIGADO!

Frei José Manuel

2ª-feira da semana XXX do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia (Lucas 13,10-17) feito por

Catecismo da Igreja Católica §1730; 1739-1742

"Esta mulher, uma filha de Abraão que Satanás havia amarrado..., era preciso libertá-la"

Deus criou o homem racional, conferindo-lhe a dignidade de pessoa dotada de iniciativa e do domínio dos seus próprios actos. «Deus quis "deixar o homem entregue à sua própria decisão" (Sir 15, 14), de tal modo que procure por si mesmo o seu Criador e, aderindo livremente a Ele, chegue à total e beatífica perfeição»: «O homem é racional e, por isso, semelhante a Deus, criado livre e senhor dos seus actos» (Santo Ireneu)...

A liberdade do homem é finita e falível. E, de facto, o homem falhou. Livremente, pecou. Rejeitando o projecto divino de amor, enganou-se a si mesmo; tornou-se escravo do pecado. Esta primeira alienação gerou uma multidão de outras. A história da humanidade, desde as suas origens, dá testemunho de desgraças e opressões nascidas do coração do homem, como consequência de um mau uso da liberdade... Afastando-se da lei moral, o homem atenta contra a sua própria liberdade, agrilhoa-se a si mesmo, quebra os laços de fraternidade com os seus semelhantes e rebela-se contra a verdade divina.

Pela sua cruz gloriosa, Cristo obteve a salvação de todos os homens. Resgatou-os do pecado, que os retinha numa situação de escravatura. «Foi para a liberdade que Cristo nos libertou» (Gl 5, 1). N'Ele, nós comungamos na verdade que nos liberta (Jo 8,32). Foi-nos dado o Espírito Santo e, como ensina o Apóstolo, «onde está o Espírito, aí está a liberdade» (2 Cor 3, 17). Já desde agora nos gloriamos da «liberdade dos filhos de Deus» (Rm 8,21).

A graça de Cristo não faz concorrência de modo nenhum, à nossa liberdade, quando esta corresponde ao sentido da verdade e do bem que Deus colocou no coração do homem. Pelo contrário, e como o certifica a experiência cristã sobretudo na oração, quanto mais dóceis formos aos impulsos da graça, tanto mais crescem a nossa liberdade interior e a nossa segurança nas provações, como também perante as pressões e constrangimentos do mundo exterior. Pela acção da graça, o Espírito Santo educa-nos para a liberdade espiritual, para fazer de nós colaboradores livres da sua obra na Igreja e no mundo.

sábado, 25 de outubro de 2008

Domingo da semana XXX do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia (Mt 22,34-40) feito por

Santo Anselmo (1033-1109), monge, doutor da Igreja

Carta 112, dirigida a Hugo, prisioneiro; Opera omnia, 3, p.245

«Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os profetas»

Como reinar nos céus mais não é do que aderir a Deus e a todos os santos, pelo amor, numa única vontade, de tal forma que exercem em conjunto um único e mesmo poder, ama pois a Deus mais do que ti próprio, e verás que começas a ter o que desejas possuir de forma perfeita no céu. Concerta-te com Deus e com os homens – se estes não se separarem de Deus – e começarás a reinar com Deus e com os seus santos. Porque, na justa medida em que agora te concertares com a vontade de Deus e com a dos homens, Deus e todos os santos concertar-se-ão com a tua vontade. Portanto, se queres ser rei nos céus, ama a Deus e aos homens como deves, e merecerás ser o que desejas.

Mas este amor, não poderás possui-lo na perfeição se não esvaziares o coração de todos os outros amores [...] Eis por que aqueles que enchem o coração com o amor a Deus e ao próximo têm apenas o querer de Deus, ou o de outro homem, na condição de que este não seja contrário a Deus. Eis por que são fiéis à oração, e a esta maneira de viver, a lembrarem-se sempre dos céus; porque lhes é agradável desejar a Deus e falar acerca d'Esse que amam, ouvir falar d'Ele e pensar n'Ele. É por isso também que rejubilam com todos os que estão em graça, que choram com os que estão em dificuldades (Rm 12,15), que têm compaixão pelos infelizes e que dão aos pobres, porque amam os outros homens como a si mesmos. [...] Sim, é assim que, de facto, destes dois mandamentos do amor «dependem toda a Lei e os profetas».

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Reunião Geral de Pais


Conforme a Programação da Catequese está agendada para o dia 23 de Outubro, às 21h30 no Centro Paroquial, uma Reunião Geral de Pais. Esta primeira reunião com os pais, na presença dos catequistas, é importante para um maior e melhor conhecimento de todos.

Pedimos a participação dos pais e catequistas!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Prémio «Bravo» à agência H2ONews


Transcrevemos uma notícia publicada pelo ZENIT sobre o prémio atribuido à agência H2ONews pelo seu excelente trabalho no âmbito da informação. Como sabem o nosso Blog publica diariamente as notícias fornecidas pela H2ONews.

(O texto da notícia está em português do Brasil)


Prêmio «Bravo» à agência H2ONews
Concedido pela Conferência Episcopal Espanhola

MADRI, terça-feira, 21 de outubro de 2008 (ZENIT.org).- Nesta terça-feira se anunciou a concessão do «Prêmio Bravo! Novas Tecnologias», concedido pela Conferência Episcopal Espanhola, à agência multimídia H2Onews (http://www.h2onews.org/).
Enrique Planas, moderador desta iniciativa, reconheceu com gratidão sua surpresa, pois se trata de um projeto que se encontra on-line desde o começo de 2008.
«Ainda que faça pouco tempo que está em andamento, isto significa que deram passos de gigante», afirma o coordenador desta iniciativa que surgiu no primeiro congresso de televisões católicas do mundo em outubro de 2006, em Madri.
H2Onews começou oferecendo um serviço diário de notícias em áudio, vídeo e texto em espanhol, italiano, inglês, árabe, chinês, francês, alemão, português e húngaro, que são distribuídas neste momento por 1.629 canais de televisão, por 1.308 canais de rádio e por 2.539 páginas web.
A agência nestes idiomas notícias diariamente produzidas pelo Centro Televisivo Vaticano (CTV), pelos canais de televisão católicos do mundo, além de publicar informação própria.
Planas recorda que o «Prêmio Bravo! Novas Tecnologias» é o único reconhecimento que existe na Igreja neste campo, motivo pelo qual o recebe como «um motivo de alento».
Planas, quem precedentemente foi oficial do Conselho Pontifício das Comunicações Sociais, delegado da Filmoteca Vaticana, e fundou a Rede Informática da Igreja na América Latina (RIIAL), explica que a Igreja não tem medo das novas tecnologias. «O trabalho que o Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais está promovendo neste momento é uma prova disso», explica.
«A Rádio Vaticano foi feita pelo Papa com Guglielmo Marconi», recorda. O fato de que haja iniciativas que estejam surgindo neste campo demonstra que é um novo momento, depois de um período de inflexão que se havia vivido em décadas passadas. O fato de que a Conferência Episcopal da Espanha tenha criado um prêmio às novas tecnologias, conclui, é uma prova e ao mesmo tempo «um impulso para novas iniciativas, oferecendo um estímulo para que surjam outras».

4ª-feira da semana XXIX do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia feito por

S. Fulgêncio (476-532), bispo

Sermão I, 2-3

"Servos de Cristo e administradores dos mistérios de Deus" (1Co 4,1)

Para definir o papel dos servos que colocou à cabeça do seu povo, o Senhor diz esta palavra que o Evangelho nos transmite: "Qual é o administrador prudente e fiel que o senhor estabelecerá sobre o seu pessoal para lhe dar a seu tempo a ração de trigo? Feliz o servo a quem o senhor, quando voltar, encontrar procedendo assim"... Se nos perguntarmos que medida de trigo é esta, S. Paulo no-lo indica; é "a medida de fé que Deus vos repartiu" (Rm 12,3). Aquilo a que Cristo chama medida de trigo, Paulo chama medida de fé para nos ensinar que não há outra medida de trigo espiritual senão o mistério da fé cristã. Essa medida de trigo, damo-vo-la nós em nome do Senhor toda a vez que, iluminados pelo dom espiritual da graça, vos falamos segundo a regra da verdadeira fé. Essa medida, recebei-la vós dos administradores do Senhor todo o dia em que ouvis da boca dos servos de Deus a palavra da verdade.

Que ela seja o nosso alimento, essa medida de trigo que Deus nos faz partilhar. Colhamos nela o sustento para a forma como nos conduzimos, a fim de obtermos a recompensa da vida eterna. Acreditemos naquele que se dá a si mesmo a cada um de nós para que não desfaleçamos no caminho (Mt 15,32) e que se reserva como nossa recompensa para que encontremos a alegria na pátria eterna. Acreditemos e esperemos nele; amemo-lo acima de tudo e em tudo. Porque Cristo é o nosso alimento e será a nossa recompensa. Cristo é o sustento e o reconforto dos viajantes que caminham; é a satisfação e a exaltação dos bem-aventurados que chegam ao seu repouso.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

3ª-feira da semana XXIX do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia (Lucas 12,35-38) feito por

Santo Isaac o Sírio (séc. VII), monge em Nínive, perto de Mossul no actual Iraque

Discursos ascéticos

"Mantenham as lâmpadas acesas"

A oração que se oferece durante a noite tem um grande poder, mais do que a que se oferece durante o dia. É por isso que todos os santos tiveram o hábito de rezar de noite, combatendo a moleza do corpo e a doçura do sono e ultrapassando a sua própria natureza corporal. Também o profeta dizia: "Estou cansado de tanto gemer; todas as noites banho o meu leito com as minhas lágrimas" (Sl 6,7), enquanto suspirava no fundo de si mesmo numa oração apaixonada. E, noutro passo: "Levanto-me a meio da noite para te louvar por causa das tuas sentenças, tu que és o Justo" (Sl 118,62). Para cada um dos pedidos que os santos queriam dirigir a Deus com todas as suas forças, eles armavam-se com a oração nocturna e imediatamente recebiam o que pediam.

O próprio Satanás nada receia tanto como a oração que se oferece durante as vigílias. Mesmo se são acompanhadas de distracções, não ficam sem fruto, a menos que se peça o que não convém. É por isso que ele trava sérios combates contra os que velam, a fim de os afastar quanto possível dessa prática, sobretudo se se mostram perseverantes. Mas os que se fortaleceram um pouco que seja contra as suas manhas perniciosas e saborearam os dons que Deus concede durante as vigílias e experimentaram pessoalmente a grandeza da ajuda que Deus lhes dá, desprezam-no completamente, a ele e a todos os seus estratagemas.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

2ª-feira da semana XXIX do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia (Lucas 12,13-21) feito por

S. Basílio (cerca 330-379), monge e bispo em Capadócia, doutor da Igreja

Catequese 31

Amontoar para si próprio ou ser rico com os olhos postos em Deus?

«Que hei-de fazer? Vou aumentar os meus celeiros!» Porque eram as terras deste homem tão produtivas, se ele fazia tão mau uso da sua riqueza? É para mais intensamente se ver a manifestação da imensa bondade de um Deus que estende a sua graça a todos, «pois Ele faz que o sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores» (Mt 5,45) ... Eram estes os benefícios de Deus para com este rico: uma terra fecunda, um clima temperado, abundantes colheitas, bois para o trabalho, e tudo que assegurasse a prosperidade. E ele, que dava em troca? Mau humor, taciturnidade e egoísmo. Era assim que agradecia ao seu benfeitor.

Esquecia que pertencemos todos à mesma natureza humana; não pensou que devia distribuir o que lhe sobrava aos pobres; não fez nenhum caso destes mandamentos divinos: «não negues um benefício a quem precisa dele, se estiver nas tuas mãos concedê-lo» (Prov 3,27), «não se afastem de ti a bondade e a fidelidade» (3,3), «partilha o teu pão com quem tem fome» (Is 58,7). Todos os profetas, todos os sábios lhe gritavam estes preceitos, mas ele fazia ouvidos de mercador. Os seus celeiros rachavam, muito pequenos para o trigo que lá se acumulava, mas o seu coração não estava satisfeito... Ele não queria desfazer-se de nada, mesmo não chegando a armazená-lo todo. Este problema incomodava-o: «Que hei-de fazer?» perguntava constantemente. Quem não teria piedade de um homem assim obcecado? A abundância tornava-o infeliz...; ele lamentava-se tal e qual como os indigentes: «Que hei-de fazer? Como alimentar-me, vestir-me?»...

Observa, homem, quem foi que te cumulou de dons. Reflecte um pouco sobre ti próprio: Quem és tu? O que é que te foi confiado? De quem recebeste esse encargo? Porque fostes tu o escolhido? Tu és servo do Deus bom; tu estás encarregado dos teus companheiros de serviço... «Que hei-de fazer?» A resposta é simples: «Saciarei os famintos, convidarei os pobres... Vós todos a quem falta o pão, vinde possuir os dons concedidos por Deus, que jorram como de uma fonte».

sábado, 18 de outubro de 2008

Domingo da semana XXIX do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia (Mateus 22,15-21) feito por
Santo António (cerca 1195-1231), franciscano, doutor da Igreja

Sermões para o domingo e a festa de todos os santos

«Levantai sobre nós, Senhor, a luz da Vossa face!»

Tal como uma pequena moeda tem a imagem de César, assim a nossa alma é à imagem da Santíssima Trindade, segundo o que nos é dito no salmo: «a luz da tua face está impressa em nós, Senhor» (4, 7LXX)... Senhor, a luz da tua face, quer dizer a luz da tua graça que determina em nós a tua imagem e nos torna semelhantes a ti, está gravada em nós, quer dizer, gravada na nossa razão, que é a maior força da nossa alma e que recebe essa luz como a cera recebe a marca de um selo. A face de Deus é a nossa razão; porque, tal como alguém conhece o seu rosto, assim conhecemos Deus pelo espelho da razão. Mas esta razão foi deformada pelo pecado do homem, porque o pecado torna o homem antagónico a Deus. A graça de Cristo reparou a nossa razão. É por isso que o apóstolo Paulo diz aos Efésios: «renovai espiritualmente a vossa inteligência» (4,23). A luz de que nos fala este salmo é pois a graça, que restaura a imagem de Deus gravada na nossa natureza...

Toda a Trindade marcou o homem à sua semelhança. Pela memória, é semelhante ao Pai; pela inteligência, é semelhante ao Filho; pelo amor é semelhante ao Espírito Santo... Desde a criação, o homem foi feito «à imagem e semelhança de Deus» (Gn 1,26). Imagem no conhecimento da verdade; semelhança no amor à virtude. A luz da face de Deus é pois a graça que nos justifica e que nos revela de novo a imagem criada. Esta luz constitui todo o bem do homem, o seu verdadeiro bem; ela marca-o, como a imagem do imperador marca a moeda.

É por isso que o Senhor acrescenta: «Dai a César o que é de César». Como se dissesse: Tal como dais a César a sua imagem, dai a Deus a vossa alma, ornada e marcada pela luz do seu rosto.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

6ª-feira da semana XXVIII do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia (Lucas 12,1-7) feito por

Papa Bento XVI

Encíclica «Spe Salvi», 27 (trad © copyright Libreria Editrice Vatican)

"Digo-o a vós, meus amigos: Não temais os que matam o corpo"

Neste sentido, é verdade que quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida (cf. Ef 2,12). A verdadeira e grande esperança do homem, que resiste apesar de todas as desilusões, só pode ser Deus – o Deus que nos amou, e ama ainda agora «até ao fim», «até à plena consumação» (cf. Jo 13,1 e 19,30). Quem é atingido pelo amor começa a intuir em que consistiria propriamente a «vida». Começa a intuir o significado da palavra de esperança que encontramos no rito do Baptismo: da fé espero a «vida eterna» – a vida verdadeira que, inteiramente e sem ameaças, em toda a sua plenitude é simplesmente vida. Jesus, que disse de Si mesmo ter vindo ao mundo para que tenhamos a vida e a tenhamos em plenitude, em abundância (cf. Jo 10,10), também nos explicou o que significa «vida»: «A vida eterna consiste nisto: Que Te conheçam a Ti, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste» (Jo 17,3). A vida, no verdadeiro sentido, não a possui cada um em si próprio sozinho, nem mesmo por si só: aquela é uma relação. E a vida na sua totalidade é relação com Aquele que é a fonte da vida. Se estivermos em relação com Aquele que não morre, que é a própria Vida e o próprio Amor, então estamos na vida. Então «vivemos».

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

5ª-feira da semana XXVIII do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia feito por

Balduíno de Ford ( ?-c.1190), abade cisterciense

O Sacramento do altar, II, 1

«Começaram a pressioná-Lo fortemente com perguntas e a fazê-Lo falar sobre muitos assuntos, armando-Lhe ciladas»

«Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito» (Jo 3,16). Este Filho único «foi oferecido», não porque o seus inimigos tenham prevalecido, mas porque assim «aprouve ao Senhor» (Is 53, 10-11). «Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo» (Jo 13,1). O fim, é a morte aceite por aqueles que Ele ama; eis o fim de toda a perfeição, o fim do amor perfeito, porque «ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos» (Jo 15,13).

Este amor de Cristo foi mais poderoso na morte de Cristo do que o ódio dos seus inimigos; o ódio apenas pôde fazer o que o amor lhe permitia. Judas, ou os inimigos de Cristo, entregaram-No à morte, devido a um terrível ódio. O Pai entregou o seu Filho, e o Filho entregou-Se a Si mesmo por amor (Rm 8,32; Ga 2,20). O amor não é porém culpado de traição; é inocente, mesmo quando Cristo morre por amor. Porque só o amor pode impunemente fazer o que lhe apraz. Só o amor pode forçar a Deus e, como Ele, guiar-nos. Foi o amor que O fez descer dos céus e O pôs na cruz, que fez jorrar o sangue de Cristo pela remissão dos pecados, num acto tão inocente quanto salutar. Qualquer acção de graças pela salvação do mundo é devida ao amor, portanto. E o amor incita-nos, numa lógica incómoda, a amar a Cristo, tanto quanto podíamos odiá-Lo.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

4ª-feira da semana XXVIII do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia feito por

São Siluane (1866-1938), monge ortodoxo

Escritos

«Ai de vós, fariseus, porque gostais do primeiro lugar nas sinagogas»

A alma do homem humilde é como o mar; quando atiramos uma pedra ao mar, a pedra agita a superfície das águas durante uns instantes, mas em seguida mergulha nas profundezas. Assim são absorvidas as dores no coração do homem humilde, porque a força do Senhor está com ele.

Onde habitas tu, alma humilde? Quem vive em ti? E a que posso eu comparar-te? Resplandeces, brilhante como o sol, mas não te consomes, apesar de arderes (Ex 3, 2), e aqueces todos os homens com o teu ardor. A ti pertence a terra dos mansos, nas palavras do Senhor (Mt 5, 4). És semelhante a um jardim florido, ao fundo do qual se encontra uma casa magnífica, onde o Senhor gosta de repousar.

Amam-te o céu e a terra. Amam-te os santos apóstolos, os profetas, os santos e os bem-aventurados. Amam-te os anjos, os serafins, os querubins. Ama-te, na tua humildade, a puríssima Mãe do Senhor. Ama-te o Senhor, que rejubila em ti.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Bíblia, livro predilecto da catequese


Está a decorrer no Vaticano o Sínodo dos Bispos sobre «A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja». Transcrevemos uma notícia publicada pela Agência ZENIT que relaciona Bíblia e Catequese. Os sublinhados são nossos.

Dom Eugène Rixen falou à assembleia do Sínodo
CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 13 de Outubro de 2008 (ZENIT.org).- O bispo responsável pela catequese na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Dom Eugène Rixen, destacou à assembleia do Sínodo a predilecção pela Bíblia na catequese no país.
“Uma das grandes conquistas do caminho bíblico em nosso país tem sido a descoberta de que a Bíblia é o livro predilecto da catequese”, afirmou em sua intervenção, essa sexta-feira.
De acordo com o prelado, a catequese “não cumpre sua missão se o fiel não chega a descobrir a importância de ter a Palavra de Deus entre suas mãos e vivê-la”.
“Sem dúvida alguma, no Brasil, devido à transformação e à mobilização que a Bíblia estimula, ela chegou a ser, com segurança, o livro mais lido, amado, admirado e vivido pelos fiéis.”
“Para nós, não é aceitável um projecto catequético que não parta da Bíblia e que não conduza a ela”, afirmou.
O bispo explicou que no Brasil a catequese “tem como primeira fonte a Sagrada Escritura”.
A Bíblia, “lida e rezada no âmbito da Tradição e do Magistério, oferece o ponto de partida, o fundamento e a norma do que se transmite aos fiéis como a finalidade de que sejam discípulos e missionários de Jesus Cristo, zelosos, dinâmicos e profetas”.
Uma das características da catequese no país é que ela “opera para que os fiéis descubram a maneira como Deus actua hoje, aqui e agora, no lugar onde Ele nos colocou para testemunhar seu amor e sua acção libertadora”, disse o prelado.

3ª-feira da semana XXVIII do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia feito por

Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja

Comentário sobre o Evangelho de S. Lucas, 7, 100-102

«Quem fez o exterior não fez também o interior?»

«Vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato.» Como vedes, os nossos corpos são aqui designados por nomes de objectos frágeis e feitos de barro, que se partem com uma simples queda. E os sentimentos íntimos da alma são designados por expressões e gestos do corpo, como aquilo que está no interior do copo pode ser visto do exterior. [...] Como vedes, não é o exterior deste copo e deste prato que nos suja, é o seu interior.

Como bom mestre que é, Jesus ensina-nos a limpar as manchas do corpo, dizendo: «Dai antes de esmola o que estará dentro e tudo para vós ficará limpo.» Vedes de quantos remédios dispomos? A misericórdia purifica-nos. A palavra de Deus também nos purifica, de acordo com o que está escrito: «Vós estais limpos, devido à palavra que vos tenho dirigido» (Jo 15, 3). [...]

É o ponto de partida de uma passagem muito bela: o Senhor convida-nos a procurar a simplicidade e condena a nossa ligação àquilo que é supérfluo e terra-a-terra. Devido à sua fragilidade, os fariseus são comparados – e com razão – ao copo e ao prato: observam pontos que não têm qualquer utilidade para nós, negligenciando aqueles onde se encontra o fruto da nossa esperança. Cometem, pois, uma grande falta, desdenhando o melhor. E, contudo, até a essa falta é prometido o perdão, desde que depois dela venha a misericórdia e a esmola.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

2ª-feira da semana XXVIII do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia (Lucas 11,29-32) feito por

São Justino (c.100 -160), filósofo, mártir

Diálogo com Trífon (34-36)

«Ora aqui está alguém que é maior do que Salomão»

Deixai-me citar um salmo, dito pelo Espírito Santo a David; dizeis que tem a ver com Salomão, vosso rei, mas tem a ver com Cristo [...]: «Ó Deus, concede ao rei a tua rectidão» (Sl 71,1). Como Salomão se tornou rei, dizeis que é dele que este salmo fala; mas as palavras do salmo designam nitidamente um rei eterno, que é Cristo. Porque Cristo foi-nos anunciado como rei, sacerdote, Deus, Senhor, anjo, homem, chefe supremo, pedra, criança por nascimento, como um ser de dor num primeiro momento, depois como um ser que se eleva aos céus, e que regressa na glória da sua realeza eterna [...]

«Ó Deus, concede ao rei a tua rectidão e a tua justiça ao filho do rei, para que julgue o teu povo com justiça e os teus pobres com equidade [...] Todos os reis se prostrarão diante dele; todas as nações o servirão» [...]. Salomão foi um rei grande e ilustre; no seu reinado foi edificada a casa a que chamamos Templo de Jerusalém, mas é claro que nada do que é dito no salmo lhe aconteceu. Nenhum rei o adorou nem o seu reino não se estendeu até aos confins da Terra, os seus inimigos não se curvaram a seus pés para lhes sacudir a poeira [...]

O «Senhor do universo» (Sl 23,10) não é Salomão; é Cristo. Assim que ressuscitou de entre os mortos e subiu aos céus, ordenou aos príncipes que Deus nomeou no céu «para abrirem as portas» do céu, a fim de que «Aquele que é o Rei da glória entre» e suba para «se sentar à direita do Pai, até que ele faça dos inimigos escabelo para seus pés», como é dito noutros salmos (23,109). Mas quando os príncipes do céu O viram sem figura nem beleza, sem honra, nem glória (Is 53,2), não O reconheceram e perguntaram: «Quem é esse Rei glorioso?» (Sl 23,8). O Espírito Santo responde-lhes então: «O Senhor do universo, eis o Rei glorioso». Com efeito, não é de Salomão, que tanta glória teve enquanto rei [...], que se pôde dizer: «Quem é ele, esse Rei glorioso?»

sábado, 11 de outubro de 2008

Domingo da semana XXVIII do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia (Mateus 22,1-14) feito por

Santo Agostinho (345-430), bispo de Hipona (África do Norte) e doutor da Igreja

Sermão 90; PL 38, 559ss

Vestir o traje nupcial

Que traje nupcial é esse de que nos fala o Evangelho? Tal traje é certamente algo que só os bons possuem, os que devem participar no festim [...]. O traje serão os sacramentos? O baptismo? Sem o baptismo, ninguém chega até Deus, mas alguns recebem o baptismo e não chegam a Deus [...] Será o altar, ou o que se recebe no altar? Mas ao receber o Corpo do Senhor alguns comem e bebem a sua própria condenação (1Co 11,29). Então será o quê, esse traje? O jejum? Também os maus jejuam. Será frequentar a igreja? Também os maus vão à igreja como os outros [...].

O que é então esse traje nupcial? Diz-nos o apóstolo Paulo: «O objectivo desta recomendação é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera» (1Tm 1,5). Eis o traje nupcial. Não se trata de um amor qualquer, porque por vezes vemos homens desonestos amar outros [...], mas não vemos neles aquela caridade autêntica «que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera»; ora, esta caridade é precisamente o fato de núpcias.

«Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, diz o apóstolo Paulo, se não tiver amor, sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine [...]. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas, se não tiver amor, nada sou.» (1Co 13,1-2) [...] Poderia ter tudo isto, disse ele; sem Cristo, «nada sou» [...]. Como são inúteis os bens, se um só deles nos faltar! Se não tiver amor, bem posso ter distribuir todos os meus bens, confessar o nome de Cristo e entregar o meu corpo para ser queimado (1Co 13,3), que de nada me aproveita, pois posso agir assim por amor da glória [...]. «Se não tiver amor, de nada me aproveita.» Eis o traje nupcial. Examinai-vos a vós próprios: se o tiverdes, aproximai-vos confiantes do banquete do Senhor.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Encontro de Reflexão para Catequistas


Recordamos que no sábado, dia 11 de Outubro, das 15 às 18 teremos o primeiro encontro de reflexão para catequistas.

Pedimos pontualidade.

6ª-feira da semana XXVII do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia (Lucas 11,15-26) feito por

São Macário (?-405), monge no Egipto

Homilia 33

«A Sua própria casa somos nós» (Heb 3, 6)

O Senhor instala-Se numa alma fervorosa, faz dela o Seu trono de glória, toma assento nela e nela permanece. [...] Esta casa onde habita o seu mestre é toda graça, ordem e beleza, assim como a alma com quem o Senhor permanece é toda ordem e beleza. Ela possui o Senhor e todos os Seus tesouros espirituais. Ele habita nela, e nela domina.

Que terrível, porém, é a casa de onde o Senhor está ausente, longe da qual o Senhor se encontra! Esta casa deteriora-se, arruína-se, enche-se de manchas e de desordem, tornando-se, na palavra do profeta, lugar de reunião de serpentes e de sátiros, casa abandonada que se enche de gatos selvagens, de hienas e de cardos (Is 35, 11-15). Infeliz da alma que não consegue levantar-se de queda tão funesta, que se deixa prender e acaba por odiar o esposo e por desviar os seus pensamentos de Jesus Cristo!

Mas quando o Senhor a vê recolher-se e procurar, noite e dia, o seu Senhor, chamá-lo como Ela a convida a fazer: «Orai sem desfalecer», então «Deus far-lhe-á justiça» (Lc 18, 1-7), como prometeu, e purificá-la-á de todo o mal, fazendo dela uma esposa «sem mancha nem ruga» (Ef 5, 27). Acredita na Sua promessa, que é a verdade. Verifica se a tua alma encontrou a luz que lhe iluminará os passos, bem como o alimento e a bebida verdadeiros, que são o Senhor. Ainda os não tens? Procura noite e dia, e encontrá-los-ás.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

5ª-feira da semana XXVII do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia (Lucas 11,5-13) feito por

Rábano Mauro (c.784-856), abade beneditino e bispo

Três livros para Bonoso, livro 3,4; PL 112, 1306

«Dar-lhe-á tudo quanto precisar»

Não permitas que te falte a confiança em Deus, nem te deixes desesperar da sua misericórdia [...] Canta ao Senhor estas palavras do profeta: «Como os olhos do servo se fixam nas mãos do seu amo, e como os da serva, nas mãos da sua ama, assim os nossos olhos estão postos no Senhor, nosso Deus, até que tenha piedade de nós. Tem piedade de nós, Senhor, tem piedade de nós, porque estamos saturados de desprezo» (Sl 122, 2-3). Se estamos saturados de desprezo por causa dos nossos muitos pecados, devemos porém voltar-nos para o Senhor nosso Deus até que Ele de nós se apiede, e dirigir-Lhe continuamente as nossas súplicas até que nos conceda o perdão pelos nossos erros. De facto, é próprio da alma constante e tenaz perseverar na oração sem vacilar por desespero de querer ser atendida, e persistir tenazmente na oração até que Deus lhe faça misericórdia.

Para que não venhas a pensar que ofendes ao Senhor por persistires na oração quando não mereces ser escutado, lembra-te da parábola de Evangelho. Nela descobrirás que os que oram a Deus com importuna perseverança não Lhe são desagradáveis, porque é dito: «Embora não se levante para [...] dar por ser seu amigo, ao menos, levantar-se-á, devido à impertinência dele, e dar-lhe-á tudo quanto precisar». Compreende pois que é o diabo que nos sugere que entremos em desespero por querer ser atendidos, e fá-lo para que nos seja retirada essa esperança na bondade de Deus, que é a âncora da nossa salvação, o fundamento da nossa vida, o guia no caminho que leva aos céus. O apóstolo Paulo diz: «Foi na esperança que fomos salvos» (Rm 8,24).

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

4ª-feira da semana XXVII do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia (Lucas 11,1-4) feito por

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (África do Norte) e doutor da Igreja

Sermão 80

«Ensina-nos a orar»

Acreditais, irmãos, que Deus ignora o que vos é necessário? Aquele que conhece a nossa aflição conhece antecipadamente os nossos desejos. Por isso, quando ensinava o Pai Nosso, o Senhor recomendava aos discípulos que fossem sóbrios nas palavras: «Nas vossas orações, não sejais como os gentios, que usam de vãs repetições, porque pensam que, por muito falarem, serão atendidos. Não façais como eles, porque o vosso Pai celeste sabe do que necessitais antes de vós Lho pedirdes» (Mt 6,7-8). Se o vosso Pai sabe o que vos é preciso, para quê dizê-lo, mesmo por poucas palavras? [...] Se o sabes, Senhor, será mesmo necessário pedir-To em oração?

Ora quem nos diz: «não useis de vãs repetições» declara-nos noutro passo: «Pedi e recebereis» e, para que não pensemos que o diz com leveza, acrescenta: «Procurai e encontrareis» e, para que não pensemos que se trata apenas de uma simples maneira de falar, vede como termina: «Batei, e hão-de abrir-vos» (Mt 7,7). Ele quer portanto que, para que possas receber, comeces por pedir, para que possas encontrar te ponhas a procurar, para que possas entrar não deixes, enfim, de bater à porta [...] Porquê pedir em oração? Porquê procurar? Porquê bater? Porquê cansarmo-nos a pedir, a procurar, a bater, como se estivéssemos a instruir Aquele que tudo sabe já? E lemos inclusive, noutra passagem: «Disse-lhes uma parábola sobre a obrigação de orar sempre, sem desfalecer» (Lc 18,2). [...] Pois bem, para esclareceres este mistério, pede em oração, procura e bate à porta! Se Ele cobre com véus este mistério, é porque quer animar-te e levar-te a que procures e encontres tu próprio a explicação. Todos nós, todos, devemos encorajar-nos a orar.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Novos materiais, nova catequese


Na Semana da Educação Cristã, um olhar sobre o que pode mudar nesta área

Para quem se compromete em Igreja, ao serviço da Catequese, como consequência da sua opção baptismal tem, na minha opinião, nos novos materiais catequéticos editados pelo Secretariado Nacional da Educação Cristã uma excelente oportunidade para centrar a sua missão naquilo que a catequese deve ser: o ecoar da voz de Deus no coração de cada pessoa que decidiu aderir a Jesus Cristo, no seio da comunidade eclesial.

Estes materiais catequéticos foram vistos, e ainda o são, por muitos agentes da pastoral catequética como uma espécie de tábua de salvação. Ou seja, as dificuldades e obstáculos que todos temos em transmitir ou suscitar a fé ficariam resolvidos com uns novos guias e livro do catequizando, bem elaborados, bem feitos, adaptados aos dias de hoje, recorrendo às novas tecnologias… eu sei lá! Mas como essa solução geral não acontece, porque não podemos pedir a um material o que ele não pode dar, espero que seja uma ocasião para relermos o documento de referência para a catequese em Portugal e onde os nossos Bispos nos dizem o que deve ser a Catequese.

No último capítulo do “Para que Acreditem e Tenham Vida” diz-se claramente que os materiais são insuficientes. Para suscitar e transmitir a fé tem que se ter em conta também: o testemunho da Igreja, que se torna preferencialmente visível no exemplo de vida cristã da família e da comunidade local; o acompanhamento pessoal do percurso de fé de cada catequizando; a capacidade que o catequista tem de comunicar com o catequizando, entre outras. Mas, acima de tudo, a grande certeza que é a comunidade cristã e o catequista, como seu enviado, que dão vida à catequese.

Oportunidade para tomar consciência

Os novos materiais podem ser – e é assim que eu os vejo – um excelente catalisador positivo para desenvolver em cada comunidade uma maior consciência da sua responsabilidade na missão de catequizar, porque a solução última não está nos materiais, nem em qualquer meio material, mas sim na Comunidade que, animada pelo Espírito Santo vive e, por isso, transmite a fé. Pede a alguns dos seus membros que sejamos acompanhantes daqueles que tendo descoberto a beleza de Deus querem aderir a Ele, através de um itinerário de inspiração catecumenal, ajudados pela graça de Deus, pelo apoio da comunidade e acompanhados pessoalmente pelo catequista, rosto e porta-vos da fé da Igreja.

Ora, a paulatina publicação da revisão dos materiais pode ser uma oportunidade para aqueles que temos alguma responsabilidade nesta área fazermos mais e melhor o que nos compete, que a Igreja nos confiou:

- Como seria bom que cada catequista se sentisse mais comprometido com o seu ser Igreja e procurasse aprofundar a sua vocação baptismal!
- Como seria bom que cada serviço diocesano de catequese proporcionasse aos seus catequistas uma excelente proposta formativa que os ajudasse a serem melhores catequistas, aceitando as suas qualidades e capacidades, potenciando-as ao serviço da transmissão da fé!
- Como seria bom que cada comunidade, através de todos os seus membros, se sentisse verdadeiramente responsabilizada pela transmissão da fé e de gerar novos filhos no Filho, pela celebração dos Sacramentos de Iniciação cristã, sabendo que na medida que inicia ela mesma aprofunda a sua vivência e fidelidade ao Evangelho!
- Como seria bom que as diversas famílias religiosas e de espiritualidade pudessem dar o seu contributo neste momento da evangelização, que é a etapa catequética, aportando aquilo que têm de melhor!

Oportunidade para agir

Penso, muito sinceramente, que esta etapa da publicação dos materiais de catequese pode ser, e é, uma etapa de graça para a Igreja em Portugal, porque nos ajuda a todos a centrar a atenção na catequese e na sua importância para a vida eclesial. Permite-nos tomar consciência dos nossos limites e a ser criativos, na fidelidade ao Espírito, para superar as limitações presentes.

É uma oportunidade para vermos que só os materiais não são suficientes – por muito bons que eles sejam –, que há outros recursos a ter em conta e que, bem vistas as coisas, os materiais didácticos em todo o processo da catequese, não são a coisa mais importante, embora sejam imprescindíveis.

Contando com bons catequistas

Mas acima de tudo ajuda a dignificar e responsabilizar a figura do Catequista, um autêntico ministério eclesial que urge ser valorizado através da promoção da vocação de catequista, com processos de discernimento e convocatória bem estruturados. Através da elaboração de percursos formativos apropriados e coerentes entre si, com elaboração de linhas orientadoras para a sua missão de co-responsabilização eclesial e expressão privilegiada daquilo que a Igreja pode e deve esperar dos leigos comprometidos e capazes que, em parceria com os seus pastores, se dão a Deus na catequese.

Para uma Igreja evangelizada e evangelizadora

Para terminar, considero que esta publicação dos novos materiais, ou da revisão dos materiais didácticos, ou os «novos catecismos» – o nome é de somenos – está a ser uma boa oportunidade para todos nos questionarmos, vermos o nosso lugar na missão de catequizar, e assumirmos as nossas responsabilidades, sabendo que é a Igreja quem evangeliza, na qual todos somos imprescindíveis.

P. Luís Miguel Figueiredo Rodrigues, Arquidiocese de Braga

3ª-feira da semana XXVII do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia (Lucas 10,38-42) feito por

Mestre Eckhart (c. 1260-1327), teólogo dominicano

Sermões

«Maria escutava a sua palavra»

Maria devia primeiro ter sido uma Marta, antes de se tornar realmente uma Maria. É que, quando estava sentada aos pés de Nosso Senhor, ainda não o era: era-o no nome, mas não na sua realização espiritual.

Algumas pessoas levam as coisas tão longe, que querem libertar-se de todas as obras. Eu digo que isso não está bem! Só depois do tempo em que receberam o Espírito Santo, é que os discípulos começaram a criar alguma coisa de sólido. Maria também, enquanto estava sentada aos pés de Nosso Senhor, ainda estava a aprender; apenas acabara de entrar para a escola; aprendia a viver. Mas, depois, quando Cristo subiu ao céu e ela recebeu o Espírito Santo, então sim, começou a servir. Atravessou o mar, pregou e ensinou e tornou-se numa colaboradora dos apóstolos.

Desde o primeiro instante em que Deus se tornou homem e homem de Deus, também Cristo começou a trabalhar com vista à nossa beatitude, e isso até ao fim, quando morreu pela cruz. Não há um membro do seu corpo que não participe nesta grande obra.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

2ª-feira da semana XXVII do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia feito por

Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja

Comentário do Evangelho de Lucas, 7, 74s

«Um samaritano... chegou perto dele; Ele viu-o e encheu-se de piedade»

Um samaritano descia por aquele caminho. «Quem desceu do céu, senão aquele que subiu ao céu, o Filho do Homem, que está no céu?» (cf Jo 3,13). Vendo moribundo aquele homem que ninguém antes dele conseguira curar..., aproximou-se dele. Quer dizer, aceitando sofrer connosco, assumiu-se como nosso próximo e, apiedando-se de nós, fez-se nosso vizinho.

«Ele tratou as suas feridas com óleo e vinho». Este médico tem muitos remédios com os quais costuma curar. As suas palavras são um remédio: tal palavra, liga as feridas; outra, verte o bálsamo; outra, o vinho adstringente... «Depois, transportou-o na sua própria montada». Ouve de que modo ele te coloca nela: «Eram os nossos sofrimentos que ele levava e as nossas dores que o vergavam» (Is 53, 4), O pastor também pôs nos seus ombros a ovelha ferida (Lc 15,5)...

«Conduziu-o à hospedaria e cuidou dele»... Mas o samaritano não podia permanecer muito tempo na nossa terra; tinha de voltar ao local de onde havia descido. Portanto, «no dia seguinte» - que dia seguinte é este, senão o dia da Ressurreição do Senhor, aquele acerca do qual Ele disse: «Eis o dia que fez o Senhor» ( Sl 117, 24)? - «pegou em duas moedas e deu-as ao estalajadeiro, dizendo-lhe: Cuida dele». O que são estas duas moedas? Talvez os dois Testamentos, que contêm a efígie do Pai eterno e, graças aos quais, as nossas feridas são curadas... Feliz desse estalajadeiro que pode curar as feridas de outrem! Feliz daquele a quem Jesus diz: «o que gastares a mais, eu to devolverei quando voltar»... Promete, pois a recompensa. Quando voltarás, Senhor, senão no dia do Juizo? Se bem que estejas sempre em toda a parte, permanecendo entre nós sem que te reconheçamos, um dia virá em que toda a humanidade te verá vir. E devolverás o que deves. Como o devolverás, Senhor Jesus? Prometeste aos bons uma larga recompensa no céu, mas darás mais ainda quando disseres: «Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em pequenas coisas, muito te confiarei; entra na alegria do teu mestre» (Mt 25,21).

Domingo da semana XXVII do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia feito por

São Basílio (c. 330-379), monge e bispo de Cesareia, na Capadócia, doutor da Igreja

Homilia 5 sobre o Hexâmeron, 6

Dar fruto

O Senhor está permanentemente a comparar a alma humana com uma vinha: «O meu amigo possuía uma vinha numa colina fértil» (Is 5, 1), «Plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe» (Mt, 21, 33). É, evidentemente, à alma humana que Jesus chama a Sua vinha, foi a ela que cercou, como se fosse uma sebe, com a segurança que proporcionam os Seus mandamentos e a protecção dos Seus anjos, porque «o anjo do Senhor assenta os seus arraiais em redor dos que O temem» (Sl 33, 8). Em seguida, ergueu em nosso redor uma paliçada, estabelecendo na Igreja «primeiro, apóstolos, segundo, profetas, terceiro, doutores» (1 Cor 12, 28). Por outro lado, através dos exemplos dos homens santos de outrora, eleva-nos os pensamentos, não os deixando cair por terra, aonde mereciam ser pisados. Deseja que os abraços da caridade, quais sarmentos de uma vinha, nos liguem ao nosso próximo e nos levem a repousar Nele. Assim, mantendo permanentemente o impulso em direcção aos céus, elevar-nos-emos como vinhas trepadeiras, até aos mais altos cumes.

O Senhor pede-nos também que consintamos em ser podados. Ora, uma alma é podada quando afasta para longe de si os cuidados do mundo, que são um fardo para o nosso coração. Assim, aquele que afasta de si mesmo o amor carnal e a ligação às riquezas, ou que tem por detestável e desprezível a paixão pela miserável vanglória, foi, por assim dizer, podado, e voltou a respirar, liberto do fardo inútil das preocupações deste mundo.

Mas – e mantendo ainda a linha da parábola – não podemos produzir apenas lenha, ou seja, viver com ostentação, ou procurar os louvores dos de fora. Temos de dar fruto, reservando as nossas obras para as mostrarmos ao verdadeiro agricultor (Jo 15, 1).

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

6ª-feira da semana XXVI do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia (Lucas 10,13-16) feito por

Hugo de São Victor (?-1141), cónego regular, teólogo

Tratado dos sacramentos da fé cristã, II, 1-2

«Quem vos escuta, escuta-me a Mim, e quem vos rejeita, rejeita-Me a Mim»

Assim como a respiração do homem passa pela cabeça, para descer até aos membros e os vivificar, assim também o Espírito Santo vem aos cristãos por Cristo. A cabeça é Cristo, os membros são os cristãos. Há uma cabeça e numerosos membros, um só corpo, formado pela cabeça e pelos membros, e neste único corpo um único Espírito, que está em plenitude na cabeça e de forma participada nos membros. Assim, pois, se há um só corpo, há também um só Espírito. Quem não está no corpo não pode ser vivificado pelo Espírito, segundo esta palavra da Escritura: «Se alguém não tem o Espírito de Cristo, não Lhe pertence» (Rom 8, 9). Porque aquele que não tem o Espírito de Cristo não é membro de Cristo.

Aquilo que faz parte do corpo não está morto; aquilo que está separado do corpo não está vivo. É pela fé que nos tornamos membros; é pelo amor que somos vivificados. Pela fé, recebemos a unidade; pela caridade, recebemos a vida. O sacramento do baptismo une-nos; e o Corpo e o Sangue de Cristo vivificam-nos. Pelo baptismo, tornamo-nos membros do Corpo; pelo Corpo de Cristo, participamos na Sua vida.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

5ª-feira da semana XXVI do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia (Mateus 18,1-5.10) feito por

São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja

12º sermão sobre o Salmo 90

«Eis que Eu envio um anjo diante de ti, para te guardar no caminho e para te fazer entrar no lugar que Eu preparei» (Ex 23,20)

«Ele deu ordens aos seus anjos, para que te guardem em todos os teus caminhos» (Sl 90,11). Que respeito estas palavras não suscitarão em ti, o fervor que farão nascer, a confiança que te inspirarão! Respeito, pela sua presença; fervor, pela sua benevolência; confiança, pela sua vigilância [...] Eles aí estão, portanto, a teu lado, e não estão contigo apenas, estão aí verdadeiramente por causa de ti e para ti. Estão presentes para te proteger, para te socorrer. Como retribuirás tu ao Senhor tudo o que Ele te deu? (Sl 115,3). É a Ele e só a Ele que devemos gloriar e honrar por este auxílio; foi Ele quem lhes deu ordens para estarem ao nosso auxílio. «Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto» (Tg 1,17), vêm d'Ele. Mas não podemos contudo deixar de estar reconhecidos aos anjos, tendo em conta a grande caridade com que obedecem, e a extrema necessidade que temos da sua ajuda.

Tenhamos portanto o maior respeito e reconhecimento por tal vigilância da sua parte; pelo nosso lado, amemo-los e honremo-los o quanto pudermos e devermos [...] Amemos em Deus os seus Anjos, com a consciência de que serão um dia nossos co-herdeiros, com a consciência de que até lá o Pai dispõe e ordena que eles sejam guias e educadores para nós. Porque «agora já somos filhos de Deus» ainda que tal não o pareça ainda claramente (1 Jo 3,2), porque somos ainda filhos submetidos a intendentes e a educadores, parecendo ainda em nada nos distinguir de servos.

No entanto, por mais pequenos que sejamos, por mais longa que seja a estrada ainda a percorrer, que teríamos a temer sob tão boa guarda? [...] Os anjos são fiéis, sábios, fortes; que teríamos a temer? Sigamo-los somente, liguemo-nos a eles, pois estaremos na protecção do Deus do céu.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

4ª-feira da semana XXVI do Tempo Comum - reflexão...


Comentário ao Evangelho do dia feito por

São Leão Magno ( ? – c.461), papa e doutor da Igreja

Sermão 71, para a ressurreição do Senhor; PL 54, 388

«Quem olha para trás, [...] não está apto para o Reino do Senhor»

Meus caros, Paulo, o apóstolo dos pagãos, não contradiz a nossa fé quando diz: «Ainda que tenhamos conhecido a Cristo à maneira humana, agora já não o conhecemos assim» (2 Co 5,16). A ressurreição do Senhor não pôs um termo à sua carne; transformou-a. O aumento da sua força não destruiu a sua substância; a qualidade mudou; a natureza não foi aniquilada. Crucificaram aquele corpo, ferrando-o a pregos: tornou-se inacessível ao sofrimento. Deram-lhe a morte: tornou-se imortal. Assassinaram-no: tornou-se incorruptível. E bem podemos dizer que a carne humana de Cristo não é, com efeito, a que tínhamos conhecido; porque nela deixou de haver vestígio de sofrimento ou de fraqueza. Continua a mesma na sua essência, mas já não é a mesma quanto à glória. Porque nos surpreendemos então que S. Paulo assim se exprima a propósito do corpo de Jesus Cristo, quando diz, ao falar de todos os cristãos que vivem segundo o espírito: «de agora em diante, não conhecemos ninguém à maneira humana».

Ele quer desta maneira dizer que a nossa ressurreição começou em Jesus Cristo. N' Ele, que morreu por nós, toda a esperança tomou corpo. Deixou de haver em nós dúvida, hesitação, espera desiludida: as promessas começaram a cumprir-se e conseguimos já ver, com os olhos da fé, a graça com que amanhã seremos cumulados. A nossa natureza elevou-se; então, na alegria, já possuímos o objecto da nossa fé [...].

Que o povo de Deus tome consciência de que se «está em Cristo, é uma nova criação» (2 Co 5,17). Que compreenda bem Quem o escolheu, e a Quem ele próprio escolheu. Que o ser renovado não volte à instabilidade do seu antigo estado. Que «depois de deitar a mão ao arado» não pare de trabalhar, que cuide do grão que semeou, que não se volte para trás, para o que abandonou [...] È esta a via da salvação; é esta a maneira de imitar a ressurreição que começou com Cristo.

Notícias da Igreja

A vinda de Jesus à Terra