Guilherme de Saint-Thierry (c. 1085-1148), monge beneditino, depois cisterciense
A Contemplação de Deus, 12
“Havia muitas viúvas em Israel”
Infeliz da minha alma, que se encontra nua a transida, Senhor; e que deseja ser aquecida ao calor do Teu amor. […] Na imensidão do deserto do meu coração, não apanho uns raminhos, como a viúva de Sarepta, junto apenas estas vergônteas, a fim de preparar qualquer coisa para comer, com um punhado de farinha e uma gota de azeite, e em seguida, entrando na tenda onde habito, morrer (1Rs 17, 10ss.). Mas não morrerei tão depressa; não, Senhor, antes viverei para propalar as Tuas obras (Sl 117, 17).Aqui me encontro, pois, na minha solidão […] e abro a boca para Ti, Senhor, procurando o sopro da vida. Por vezes, Senhor […] tu metes-me qualquer coisa na boca do coração; mas não me permites saber do que se trata. Provo um sabor tão doce, tão suave, tão reconfortante, que outro não busco; quando o recebo, porém, não me permites discernir de que se trata. […] Quando o recebo, tenho vontade de o reter e o ruminar, de o saborear, mas ele passa bem depressa. […]Aprendo pela experiência o que dizes do Espírito no Evangelho: “Ninguém sabe de onde vem nem para onde vai” (Jo 3, 8). Com efeito, tudo quanto tive o cuidado de confiar à minha memória, a fim de poder revê-lo quando quisesse, submetendo-o assim à minha vontade, tudo isso encontro morto e insípido. Oiço as Tuas palavras: “O Espírito sopra onde quer”, e descubro em mim que Ele não sopra quando eu quero, mas quando Ele quer. […]Para Ti, pois, Senhor, para Ti se voltam os meus olhos (Sl 122, 1). […] Quanto tempo tardarás? Quanto tempo se demorará a minha alma junto a Ti, infeliz, ansiosa, em cuidados? (Sl 12, 2). Esconde-me, peço-Te, no segredo do Teu rosto, longe das intrigas dos homens; protege-me na tenda, longe da guerra das línguas (Sl 31, 21).
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