A Magia do Natal
Era Dezembro e todos esperávamos que a magia acontecesse.
Da cozinha quente chegava-nos um cheiro doce a rabanadas acabadas de fazer, envoltas em canela, fumo e calor do fogão de lenha de casa da minha avó.
O presépio magnificamente simples fazia-nos lembrar a essência e a verdadeira importância do Natal.
Todos os anos, o Avô esperava por nós e juntos íamos pela serra apanhar musgo verdinho e húmido nas sombras dos pinheiros, entre as pedras escondidas e em lugares únicos que só o meu avô conhecia.
Depois do musgo era a cortiça, para montar o estábulo igual ao de Belém. Então, num misto de medo e excitação, entravamos sorrateiramente num terreno que não era nosso, um de nós ficava de vigia, e o avô descascava o sobreiro com mestria de rapinador.
Era uma tarde tão bem passada com uma intimidade profunda de sentimentos puros…
Voltávamos com as unhas pretas e a alma clara cheia de gargalhadas francas e simples, e aquilo fazia-nos bem.
Forrávamos o armário com uns panos verdes, cuidadosamente lavados de um ano para o outro, e espalhávamos o musgo. A avó montava o estábulo e,
atenção, muita atenção, que íamos desembrulhar o presépio.
Todos os anos era como se fosse a primeira vez que o víamos. Abríamos a boca de espanto e o coração enchia-se de uma inexplicável ternura.
Era tão bonito montar o presépio em casa dos meus avós…
O avô desembrulhava o S. José, fazia-nos ver que o importante é acreditar nas pessoas, ser humilde e responsável.
Era a vez da avó desembrulhar a imagem de Maria. Era tão bom desembrulhar a imagem de Maria. Sentíamo-nos protegidos e contentes. A minha avó fazia-nos ver que a coisa melhor do mundo é o amor de mãe. É mágico e poderoso, eterno e indestrutível, é puro e incondicional.
O manto azul de Maria já tinha manchas do tempo, como as mãos da minha avó, mas era tão bonito na mesma.
Depois um de nós punha o burro, outro a vaca, e o mais pequenino punha a estrela. Houve um ano que me calhou a mim pôr a manjedoura, ainda me lembro da minha alegria…
E o menino Jesus?
O menino Jesus era o meu pai que punha, mas só na noite de Natal.
Esse ano não foi diferente dos outros, ou foi, foi sim, era sempre diferente e impossível de acreditar.
Depois da Missa do Galo e antes da ceia, o meu pai foi pôr o menino Jesus nas palhinhas e a magia aconteceu, mais uma vez a magia aconteceu:
De repente, o nosso coração enchia-se de fé e de luz e a nossa alma emanava alegria e amor pelo Deus Menino que nasceu.
Era Natal.
Leonor Mexia
Era Dezembro e todos esperávamos que a magia acontecesse.
Da cozinha quente chegava-nos um cheiro doce a rabanadas acabadas de fazer, envoltas em canela, fumo e calor do fogão de lenha de casa da minha avó.
O presépio magnificamente simples fazia-nos lembrar a essência e a verdadeira importância do Natal.
Todos os anos, o Avô esperava por nós e juntos íamos pela serra apanhar musgo verdinho e húmido nas sombras dos pinheiros, entre as pedras escondidas e em lugares únicos que só o meu avô conhecia.
Depois do musgo era a cortiça, para montar o estábulo igual ao de Belém. Então, num misto de medo e excitação, entravamos sorrateiramente num terreno que não era nosso, um de nós ficava de vigia, e o avô descascava o sobreiro com mestria de rapinador.
Era uma tarde tão bem passada com uma intimidade profunda de sentimentos puros…
Voltávamos com as unhas pretas e a alma clara cheia de gargalhadas francas e simples, e aquilo fazia-nos bem.
Forrávamos o armário com uns panos verdes, cuidadosamente lavados de um ano para o outro, e espalhávamos o musgo. A avó montava o estábulo e,
atenção, muita atenção, que íamos desembrulhar o presépio.
Todos os anos era como se fosse a primeira vez que o víamos. Abríamos a boca de espanto e o coração enchia-se de uma inexplicável ternura.
Era tão bonito montar o presépio em casa dos meus avós…
O avô desembrulhava o S. José, fazia-nos ver que o importante é acreditar nas pessoas, ser humilde e responsável.
Era a vez da avó desembrulhar a imagem de Maria. Era tão bom desembrulhar a imagem de Maria. Sentíamo-nos protegidos e contentes. A minha avó fazia-nos ver que a coisa melhor do mundo é o amor de mãe. É mágico e poderoso, eterno e indestrutível, é puro e incondicional.
O manto azul de Maria já tinha manchas do tempo, como as mãos da minha avó, mas era tão bonito na mesma.
Depois um de nós punha o burro, outro a vaca, e o mais pequenino punha a estrela. Houve um ano que me calhou a mim pôr a manjedoura, ainda me lembro da minha alegria…
E o menino Jesus?
O menino Jesus era o meu pai que punha, mas só na noite de Natal.
Esse ano não foi diferente dos outros, ou foi, foi sim, era sempre diferente e impossível de acreditar.
Depois da Missa do Galo e antes da ceia, o meu pai foi pôr o menino Jesus nas palhinhas e a magia aconteceu, mais uma vez a magia aconteceu:
De repente, o nosso coração enchia-se de fé e de luz e a nossa alma emanava alegria e amor pelo Deus Menino que nasceu.
Era Natal.
Leonor Mexia
Dezembro 2007
Obrigado Leonor pela candura das palavras que neste quadra nos recordam a ternura de Deus! FZM
2 comentários:
Que saudades da "força" que o Natal das nossas infâncias tinha nas nossas mentes e nos nossos corações!
Os nossos filhos mereciam poder sentir e vivenciar o mesmo encanto revelado neste Conto de Natal!
Sei que depende de nós...
Muito obrigada pela partilha!
Manuela
Lindissimo!! Obrigada!!
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